O desastre da política externa ultra-ideológica de Bolsonaro

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O primeiro evento internacional que Bolsonaro participou foi o Fórum Econômico Mundial em Davos. Sua presença foi desprezada e criticada pelo próprio mainstream, mesmo com sua retórica privatista, antinacional e subserviente ao capital financeiro internacional. Coube a um entrevistador lembrá-lo de que o Brasil é a 8ª maior economia do mundo. A cena insólita de um chefe de Estado comendo solitário em um bandejão reflete como hoje o Brasil é visto internacionalmente: um país do qual se deve manter distância, enquanto tal governo existir.

As relações submissas aos Estados Unidos e à Israel já geraram uma dura advertência da China e uma onda de afastamento dos países árabes, começando pelo Egito e seguido pela Arábia Saudita, que anunciou suspensão da compra da carne brasileira. Ou seja, o prejuízo sai do discurso sofista e passa para a economia.

Assim, quanto mais Bolsonaro fala em “não ter ideologia”, mais ele vai jogando a política externa brasileira para o gueto ideológico dos poucos países do mundo que estão sob governos de extrema-direita. O Brasil de Bolsonaro caminha para ser um pária internacional, parceiro apenas de governos autoritários e internacionalmente mal vistos, o que significa menos comércio exterior, menos investimentos, menos reservas cambiais, gerando mais desemprego, desindustrialização e pobreza.

Contraditoriamente, segundo a pesquisa Datafolha, a maioria da população não apoia suas medidas, mas crê em seu governo. Resta saber até quando, com seu filho atolado na lama da lavagem de dinheiro e do envolvimento com milícias criminosas do Rio de Janeiro. Isto é só o começo da revelação do telhado de vidro de uma família de políticos corruptos profissionais, que se passaram por moralizadores.

Enquanto Bolsonaro vai sangrando e mostrando-se inviável como autoridade máxima do país, o General Mourão afia as unhas, demarca campo com os erros táticos e estratégicos do capitão. Critica as posições do presidente em política externa, enquanto dialoga com os insatisfeitos internos.

No outro lado, parte da esquerda prefere jogar para plateia transformando as eleições no Congresso num palanque pra convertidos, o que custará ficar fora da mesa e da direção das comissões. Em vez de aproveitar as contradições do outro lado e ocupar os espaços que lhe cabem, prefere brincar de vestal para novamente brigar pelo hegemonismo. Vai uma última pergunta: para derrotar o governo Bolsonaro, será que curtidas valem mais do que ocupação de espaços institucionais?

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De manhã, escrevi sobre o desastre da política externa de Bolsonaro. À tarde, o governo comete mais bolas foras. Toma uma atitude irresponsável, que transforma o Brasil numa simulacro dos interesses dos Estados Unidos. Reconhece como “presidente interino” da Venezuela, um autoproclamado “líder da oposição” que sequer foi eleito. Com isto, Bolsonaro joga no lixo a tradição da diplomacia brasileira de não intervenção em assuntos internos de um país, desrespeita a democracia venezuelana e praticamente endossa uma agressão militar ao país vizinho. O que aconteceria no caso de uma guerra contra a Venezuela? Teríamos tropas dos Estados Unidos na Amazônia para garantir petróleo barato aos carrões norte-americanos. O que o Brasil ganha? Refugiados famintos, soldados brasileiros matando e morrendo e uma página vergonhosa na História.

Por Thomas de Toledo