Os Pracinhas, a Campanha da Itália e os pilantras

GILBERTO MARINGONI Os Pracinhas, a Campanha da Itália e os pilantras 75 anos FEB monte castello

TIVE DOIS TIOS QUE FORAM À ITÁLIA, como pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (1944-45) na II Guerra. Ambos lutaram em Monte Castello e eu os conheci na infância.

Napoleão de Oliveira, paraense e irmão de meu pai, voltou condecorado, fez carreira no Exército e chegou a capitão. Gostava de levantar a camisa e mostrar à criançada a cicatriz de um estilhaço de granada à altura do peito. Contava orgulhoso ter apertado a mão do general Mark Clark, comandante do 5º Exército dos Estados Unidos, sob cujo comando estavam as forças brasileiras. Meu pai rompeu com ele numa briga memorável, ao saber de seu apoio ao golpe de 1964.

Renato Werneck, carioca e primo de minha mãe, era um homem altíssimo para minha visão de criança, magro, triste e soturno. Sua função era estender cabos telefônicos no front, junto com um atirador que lhe dava cobertura. Missão para lá de perigosa. Lembro dele sentado numa poltrona, quieto, sem nada falar. Voltou com “neurose de guerra”, dizia baixinho minha avó. Ficou anos sem conseguir dormir direito, por uma insônia irremediável.

LEMBREI DE AMBOS ao saber que hoje se comemoram 75 anos da maior vitória brasileira no conflito.

Para a guerra mandaram os pobres. Filhos de bacanas, com raras exceções, se livraram da empreitada. Foram convocados ou se apresentaram cerca de cem mil rapazes, quase garotos. Embarcaram para os campos de batalha 27,5 mil soldados. Três quartos seriam eliminados por más condições físicas, causadas por doenças crônicas, contraídas em sua maior parte em infâncias miseráveis. Tinham fome atávica, carências de anticorpos, falta de dentes, problemas de visão ou até mesmo incapacidades cognitivas. A peneira foi um choque para a opinião pública: aquele Brasil de 41 milhões de habitantes era um país doente. Meus parentes formavam a elite dos pés-rapados, os que foram aprovados.

AOS NOSSOS COMBATENTES contra o nazismo – poucos ainda vivos – , todas as homenagens são insuficientes.

Não escrevo isso para contar histórias de família, mas para exaltar gente que enfrentou pólvora, chumbo e bala e voltou para contar. Gente de variadas opiniões políticas que honrou a bandeira brasileira.

Três quartos de século depois, é asqueroso ver, aboletados neste governo de merda, algumas dezenas de pilantras fardados que passaram a vida berrando com recrutas e pilotando escrivaninhas. Gente que enlameia as insígnias. Gente que participa do butim fascista de entrega do país ao Império e se arroga a falar de nacionalismo e patriotismo. Não são militares de verdade. É gente fantasiada de verde-oliva.

VAGABUNDOS! CANALHAS! A única batalha que conhecem é contra nosso país e nosso povo.

Por Gilberto Maringoni

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