Surge uma crise na cúpula: E qual o interesse dos trabalhadores?

Protesto na fiesp
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Na última semana a reunião de Bolsonaro com Paulo Skaf intensificou a crise entre as frações da burguesia interna. A porção denominada “Coalizão Industrial” já não estava satisfeita com o resultado do ano de 2019 que apresentou a queda de 1,1% na produção industrial brasileira (IBGE).Os diálogos entre Skaf e representantes dessa fração – conhecida também como “FIESP B”- já estavam interrompidos, as associações do empresariado industrial vinham operando um canal direto com o governo através de reuniões semanais com Paulo Guedes. O motivo da cisão está na prioridade estratégica, adotada pelo presidente da FIESP, de jogar para escanteio a produção da indústria e priorizar a defesa dos interesses econômicos de outros setores.

Dias antes do encontro um economista representante deste setor industrial divulgou um texto denominado “O desafio é reindustrializar” em sua coluna no jornal Estadão. A coluna tece duras críticas a política econômica adotada pelo governo de Bolsonaro e Guedes. Como um “liberal a moda antiga” aponta que a crise da economia capitalista não está solucionada, pois seria necessária a implementação de medidas para alavancar a retomada da produção industrial para garantir o retorno do crescimento das taxas de lucros. Apesar da convergência da necessidade das reformas aplicadas pelo governo, o economista aponta a existência de um processo de “desindustrialização” e extermínio da indústria produtiva brasileira.

O indicativo do apoio de Bolsonaro a Skaf gerou uma crise não somente no empresariado mas também entre na base bolsonarista. O atual presidente da Federação das Indústrias de São Paulo – hoje no MDB – esta entre os nomes cogitados para assumir a liderança da “Aliança pelo Brasil”, partido em processo de construção após ruptura de Bolsonaro com PSL. O possível apoio se expressou na abertura de uma disputa política entre o nome que encabeçaria a chapa para prefeitura de São Paulo. Apesar das direções tentarem colocar panos quentes e pronunciarem que estão em busca de um consenso.

Grande parte das centrais sindicais, acreditando ainda no mito da burguesia industrial progressista e tomando parte na disputa intraburguesa, se inscreveu no jogo para definir a melhor saída para a crise econômica dos capitalistas. Ignorando a realidade e suas relações de classes, acreditam na indústria como uma entidade neutra que pode variar o seu caráter a depender do tipo de gestão capitalista e váriar sua produção rumo a um suposto progresso nacional. Essa avaliação equivocada se desdobrou em uma tática equivocada, as centrais (que há algum tempo não apareciam na luta de classes) somaram forças a um ato no dia 03 contra o desmonte da indústria nacional e pela restruturação da diretoria da FIESP. Apresentaram também um manifesto com três propostas para “solução da crise produtiva brasileira”, o documento com título “Ações para uma indústria capaz de alicerçar o desenvolvimento brasileiro”, concluí:

“A construção de um novo tecido industrial que cumpra estas três funções só poderá ser feita ao longo do tempo, por meio de ações estruturadas que envolvam diferentes organismos de governo em sintonia com entidades sindicais e empresariais também orientadas ao desenvolvimento do país e de suas diferentes regiões.

Essa é uma obra de longo prazo, mas existe desde já um conjunto de ações que podem ser colocadas em marcha com os instrumentos e recursos existentes, por meio de iniciativas de desenvolvimento local formuladas e implementadas no âmbito dos poderes executivos e legislativos nos Estados, municípios, ou das micro e mesorregiões que estruturam o território brasileiro.

O Brasil deve constituir o seu Plano Indústria, somando as forças do Estado brasileiro com o setor privado e os trabalhadores em uma grande agenda que reposicione o País na economia global.”

A grande burocracia sindical não ignora somente a função da indústria no sistema capitalista mas também evidenciam sua posição sobre a função do Estado. As centrais colocam na ordem do dia a mobilização da classe trabalhadora para defesa dos interesses da burguesia e ocultam essa posição com palavras de ordem como: em nome da defesa de empregos e da retomada desenvolvimento nacional. Defendem a um lado na disputa da melhor forma de exploração capitalista em nome dos interesses dos trabalhadores.

Disto tudo uma coisa é um fato, uma crise se instaura na cúpula. Agora temos uma questão colocada: qual o real interesse da classe trabalhadora, e as tarefas da esquerda? Tomar parte na disputa da cúpula?

Acredito que não.

Por Ayrton Otoni