Queda de Bebianno vai além de um filho mimado e do laranjal do PSL

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O obscuro secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, caiu. O motivo teria sido o escândalo dos candidatos laranjas do PSL desvelado pela Folha de São Paulo, seguido de um entreveiro com o filho Carlos Bolsonaro do presidente Jair. Segundo a narrativa que ganhou a grande mídia e as redes sociais, Carlos, um filho mimado que protagonizou a cena ridícula do Rolls Royce na posse presidencial, é desafeto de Bebianno, e teria influenciado o pai a demitir um ministro estratégico diante de um escândalo que a princípio não compromete o governo. A Globo, no Fantástico deste domingo(17), massificou essa versão com uma matéria ironizando o caso através de cenas de seu programa adolescente Malhação, como se a crise fosse um problema de fofocas e desmentidos no Whatsapp. No núcleo militar do governo e no Congresso, o clima é de perplexidade pela reação destrambelhada do presidente, porque gera desconfiança nos aliados que temem ser os próximos a serem descartados dessa forma, e dificulta as negociações com o parlamento, bem quando o governo está prestes a apresentar a reforma da previdência.

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Carlos Bolsonaro no banco de trás do Rolls Royce no desfile de posse do pai.

Gustavo Bebianno foi um dos articuladores partidários de Bolsonaro, e por isso ascendeu à presidência do PSL no período eleitoral, mas o cacique que presidia antes e voltou a presidir o partido depois da eleição, é o deputado federal por Pernambuco, Luciano Bivar, que conquistou a vice-presidência da Câmara dos Deputados no acordo com Rodrigo Maia. Bivar foi o maior beneficiário do fundo eleitoral do PSL, a segunda maior foi uma candidata laranja em seu estado, e era de Bebianno a responsabilidade de liberar os recursos a pedido dos diretórios estaduais. No entanto, há questões mais profundas envolvendo o ex-secretário-geral da Presidência do que apenas a liberação de fundo eleitoral para candidatos laranjas ou sua mentira desmentida pelo vazamento de áudios de Whatsapp do presidente.

Segundo matéria da revista Exame, Bebianno é o responsável por aproximar o então candidato a presidente Bolsonaro do empresário Paulo Marinho, que é nada menos do que o suplente do outro filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. Marinho tornou-se figura central na campanha e na formação do governo. Sua casa chegou a ser “sede” de reuniões da equipe de transição, e seu filho, André Marinho, também passou a fazer parte do círculo do presidente, tendo servido como intérprete da primeira conversa entre Bolsonaro e o presidente dos EUA, Donald Trump. Além disso, os Marinho (não confundir com os donos da Globo) tem outras conexões políticas importantes; como João Doria, o filho André inclusive preside o setor “jovem” da empresa de lobby do governador paulista, a Lide; e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de quem Paulo é conselheiro informal, segundo a Folha.

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O empresário Paulo Marinho e seu filho André Marinho com o presidente Jair Bolsonaro

A indicação de Paulo Marinho a suplente de Flávio Bolsonaro por Bebianno foi feita a contragosto da família presidencial e, ainda por cima, os Bolsonaro desconfiam que Bebianno teria vazado para a empresa dos outros Marinho, a Globo, as investigações do COAF sobre o laranja Queiróz do gabinete de Flávio, quando este era deputado estadual na ALERJ. Para piorar, Bebianno marcou uma reunião com o vice-presidente de relações institucionais (proxy para lobista) da Globo, Paulo Tonet Camargo, que foi cancelada após bronca do presidente: “Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”. Como se sabe, Bolsonaro antagoniza a Globo nas redes sociais e dá clara preferência em suas relações de comunicação a outras emissoras de TV, como o SBT (mas também Record ou Rede TV), que além de entrevistas exclusivas, recebe furos de reportagem importantes negados à gigante Globo, como a própria demissão de Bebianno.

Diante disso, fica claro que Gustavo Bebianno não é uma figura descartável do arranjo político-empresarial que levou Bolsonaro e seus filhos ao poder e ao mesmo tempo representa um setor com contradições internas a esse arranjo, mas não pelos motivos mais repercutidos sobre sua atuação como presidente do PSL quando era responsável pela liberação de verbas eleitorais. O risco de Bebianno resolver implodir o governo com tudo o que sabe é real, e por isso Bolsonaro já ofereceu uma saída “honrosa” como embaixador para apaziguar o ex-secretário. As disputas dos grupos de interesse que levaram Bolsonaro ao Palácio do Planalto estão só começando, e tendem a se agravar quando o governo for efetivamente negociar com o Congresso a dificílima reforma da previdência.