A questão militar na teoria política

Aconteceu uma ruptura teórica, organizativa e política de longo prazo na forma das organizações políticas revolucionárias quanto à questão militar.
Foto: REUTERS/John Vizcaino
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Sem perspectiva de poder popular, revolução, planificação da economia e até grandes reformas, torna-se supérfluo, para não dizer incômodo, pensar a dimensão político-militar da luta política. Aconteceu uma ruptura teórica, organizativa e política de longo prazo na forma das organizações políticas revolucionárias quanto à questão militar. Até mais ou menos 1970, com variedade de temporalidade a depender do país, os partidos que se colocavam como revolucionários tinham uma grande preocupação com a questão militar por entender o básico, isto é, que a classe dominante nunca entregaria seu poder sem luta e que nos momentos de acirramento da luta de classes, a dimensão político-militar da luta política assume o primeiro plano.

Antônio Gramsci abordando como se analisa as relações de força em política, aponta três elementos como centrais: a) as estruturas econômicas objetivas em todos os seus determinantes; b) níveis de organização, consciência política, consciência de classe, programa político etc.; c) o terceiro elemento é “a relação das forças militares, imediatamente decisivo em cada oportunidade concreta” (GRAMSCI, 2017, p. 43). Partidos políticos como Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), do Chile, e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), tinham não só seções militares, como, no caso do MIR, um serviço secreto reconhecido por suas qualidades.

Não só essa dimensão fundamental da luta revolucionária foi relegada, como processou-se uma grande ruptura na formação teórica dos dirigentes políticos: Stálin, Trotski, Rosa Luxemburgo, Luis Carlos Prestes, Lênin, Palmiro Togliatti, Antônio Gramsci, José Carlos Mariátegui, Hugo Chávez, Che Guevara, Thomas Sankara e tantos outros líderes, guardadas todas as suas diferenças, tinham uma semelhança: entendiam de teoria militar, sabiam pensar a guerra como continuidade da política. Ser um dirigente revolucionário, nas décadas passadas, significava entender da ciência das armas.

Essa ruptura teórica foi adornada com ares democráticos: ignorar a dimensão político-militar da estratégia revolucionária significaria um compromisso com a democracia, agora um valor universal, para não cair mais nos erros do autoritarismo ou totalitarismo.

(Trecho do livro de Jones Manoel que será publicado neste ano de 2020.)