A questão religiosa é também uma questão de classes

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Um terço da população adulta brasileira é evangélica. Se recortarmos apenas as classes populares, imagino que esse índice fique acima de quarenta por cento. E esse crescimento está longe de ser sustado na próxima década. Ainda não há sinais de que ele arrefeceu.

Ou seja, esse novo perfil religioso da população brasileira é irreversível. Não somos uma nação católica-romana.

Uma questão importante é saber se isso significa, em termos políticos, o crescimento do liberalismo e de uma visão pró-capitalista e direitista no Brasil.

Eu duvido muito. O conservadorismo moral de evangélicos não é muito diferente do católico-romano: bastante flexível. Vamos lembrar aí que a Igreja Universal do Reino de Deus é favorável à descriminalização do aborto, só pra começar. O Neopentecostalismo é uma abordagem mais mágica do que moralista da religião. E ele é o verdadeiro motor por trás do crescimento dos evangélicos no país.

As pautas moralistas já existiam no eleitorado antes do crescimento pentecostal. Só que agora conseguiram meios de expressão política porque as lideranças das principais igrejas trocam favores por votos, nada mais do que isso.

Um detalhe interessante: dei uma olhada na recente pesquisa do Datafolha sobre os cem primeiros dias do governo. A popularidade de Jair Bozó é MENOR entre neopentecostais do que entre evangélicos pentecostais e protestantes tradicionais. É menor até do que entre kardecistas.

Entre os que consideram o governo ótimo/bom -> média dos entrevistados: 32%; católico-romanos: 27%; total evangélicos: 42%; evangélicos tradicionais: 43%; evangélicos pentecostais: 43%; evangélicos neopentecostais: 37%; outras evangélicas: 43%; kardecistas: 41%; umbanda/candomblé e similares: 24%.

Entre os que consideram o governo ruim/péssimo -> média dos entrevistados: 30%; católico-romanos: 31%; total dos evangélicos: 23%; evangélicos tradicionais: 24%; evangélicos pentecostais: 20%; evangélicos neopentecostais: 30%; outras evangelicas: 17%; kardecistas: 32%; umbanda/candomblé e similares: 31%.

A resposta para essa questão religiosa passa, em muitos pontos, por problemas de classe — kardecistas reproduzem a polarização sobre o Reino que vem crescendo na faixa de renda familiar superior a dez salários mínimos –, e por pautas das lideranças das Igrejas. O alvo tem de ser a picaretagem da cúpula. Os católico-romanos são menos permeados pela influência dos líderes porque possuem níveis de prática religiosa menores do que os evangélicos.

Por André Luiz Dos Reis