O racismo e a violência policial atravessam diariamente os corpos negros

O racismo e a violência policial atravessam diariamente os corpos negros
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É urgente a necessidade de rompermos com este projeto de país perverso de massacre e extermínio da população negra, indígena e periférica. O problema do racismo não é só dos negros, é um problema de toda a sociedade. Nesse sentido, nas palavras de Lélia Gonzalez, “Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo: negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da questão da discriminação racial neste país, vai ser muito difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial.”

A naturalização do racismo é consequência do mito da democracia racial legitimado no início do século XX, criando a falsa ideologia da igualdade entre brancos e negros, que diz “somos todos iguais”, mas é obvio que não somos todos iguais, a violência e o abandono do Estado nos lembra disso todos os dias. É impossível negar o viés racial da violência no Brasil, a face mais evidente do racismo. Desde o período colonial a desigualdade racial se perpetua no país e pode ser vista nas estatísticas, os corpos de pessoas negras conscientes e não conscientes são atravessados diariamente por diversas violências em vários setores da sociedade que decorrem do racismo estrutural e institucional.

As inúmeras manifestações de protestos contra o racismo e a violência policial que estamos atravessando nas ruas e nas redes sociais mostram que os Estados Unidos e o Brasil compartilham números elevadíssimos de assassinatos de negros pela polícia. A tortura policial, até à morte, filmada e enviada ao mundo, que assassinou brutalmente George Floyd, foi a gota d’água que desencadeou a cobrança da luta antirracista e o processo de revisão dos privilégios branco nas sociedades do mundo.

Os índices de mortalidades assumem o cenário de uma das maiores violações de direitos humanos e o extermínio da população negra. A situação está insustentável e inaceitável. As ações governamentais (federal, estadual e municipal) sejam por ação ou omissão, têm dado carta branca para a execução de violências múltiplas sobre os corpos negros e periféricos, de forma irresponsável, sem nenhum compromisso com a população e a democracia, não podemos mais eleger os nossos algozes.

No brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é morto. Dados recentes do Atlas da Violência apresentam que as pessoas negras ocupam o primeiro lugar como vítimas da letalidade policial e feminicídios. 75,4% das vítimas de homicídio no Brasil são negras, esse grupo representa 55% da população, os homicídios entre jovens negros são quase três vezes maiores do que brancos, 99,3% são homens e 77,9% com a faixa etária entre 15 e 29 anos, na análise sob o recorte de gênero e raça, apresenta que 66% de todas as mulheres assassinadas no país são negras. Além disso, na pandemia do novo coronavírus, a população negra tem 62% mais chances de morrer por covid-19 do que os brancos.

Já parou para pensar que estamos falando de vidas? Essas estatísticas mencionadas te assustam? Se isso não te incomoda ou não te deixa inquieto, saiba que tem algo de muito errado. O racismo é um sistema de opressão, compreendido como um fenômeno que desumaniza e que estabelece uma relação de poder e hierarquia entre uma raça em detrimento da outra. Nesse contexto, é preciso que as pessoas brancas assumam a responsabilidade nessa luta antirracista e rompam com as estruturas que sustentam os seus privilégios, só assim teremos os avanços reais.

Temos que superar a questão racial com responsabilidade e compromisso, o momento exige uma ação política e uma estratégia antirracista. Com o olhar atento à promoção da equidade e justiça social que perpassa por raça, gênero e classe. É preciso que sejam aplicadas políticas públicas eficientes para o enfrentamento ao racismo e criar um novo projeto de sociedade. É preciso romper com o projeto que está posto. A palavra de ordem já foi dada: “Enquanto houver racismo, não haverá democracia.”

Por Leticia Gabriella da Cruz Silva, Técnica em Administração de Empresas, Graduanda em Direito, Militante da causa feminina e antirrascista no movimento Educafro, Presidenta da Ação da Mulher Trabalhista PDT-SP Capital e Vice Presidenta do Diretório do PDT-SP Municipal.

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