Radicalidade contra a resiliente popularidade de Bolsonaro

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ALGO DE ABSOLUTAMENTE INSÓLITO nos exige reflexão, até para propor meios eficazes de neutralização. Me refiro à resiliência dos índices, se não majoritários, pelo menos, bastante significativos, da parcela da população que ainda mantém fidelidade a Bolsonaro.

O MAIS GRAVE é constatar que, para além desse segmento da sociedade civil, há uma competente operação do miliciano-chefe em direção à sociedade fardada – esse contingente imenso de Forças Armadas, Polícias Militares, Polícia Federal, o setor que executa o monopólio da violência do Estado, que lhes é concedida pela própria Constituição. Para além, sem que se esqueça, dos setores ilegais das milícias cúmplices de longa data.

EM TEMPOS SOMBRIOS da ditadura empresarial-militar que nos assolou por mais de duas décadas, Chico Buarque nos alertava com um “Chama o ladrão!! Chama o ladrão!!”, diante da ameaça repressiva do aparelho do Estado a serviço do regime e das camadas sociais privilegiadas que nele se locupletavam, contra quem se levantasse por liberdade e democracia.

IMPOSSÍVEL NÃO NOTAR que até os instrumentos de lavagem cerebral, fundamentais para o exercício do poder autoritário, estejam hoje no campo dos ameaçados. Criaram o monstro, através da campanha acerbada na defesa dos ilegais métodos inquisitoriais da Lava-Jato, como forma de defenestrar o neoPTismo pelo golpe legislativo de 2016, e agora se veem por ele ameaçados.

SIM, PORQUE basta a comparação mesmo superficial com situações anteriores para constatar que poucos governos foram tão bombardeados pela ação conjunta da mídia conservadora quanto o atual. E não sem razão, diante do avanço tsunâmico do negacionismo e da irracionalidade na luta que não travou contra a pandemia.

E POR QUE NÃO RESULTA em conclusões de defenestramento, como por ocasião de campanhas anteriores? Porque as classes dominantes, das quais essa mídia conservadora é porta-voz estão tão fragmentadas quanto se tenta afirmar estarem as forças de esquerda.

O PRINCIPAL AGENTE visível de seu combate é o medíocre MiniMaia, que a conjuntura levou à atual dimensão de representatividade apenas por estar no lugar certo, na hora certa. Foi eleitor de Bolsonaro, como revela Bernardo Mello Franco em sua coluna, e toda a sua grita contra investidas do Executivo sobre o Legislativo esbarra em contradições práticas que mais projetam falácias e hipocrisia do que indignação sincera.

ASSIM COMO SEUS MENTORES ideológicos, se aferra à denúncia de eventuais acessórios – retórica desqualificante e apego a contra-valores comportamentais e morais. Mas tudo dentro da defesa desabrida do essencial – a economia política calcada em pacotes de contra-reformas anti-sociais e a favor do grande capital. Na defesa ferrenha do “neoliberalismo primitivo”, pinochetista, de Paulo Guedes.

MAIS AINDA, e talvez como constatação mais grave da contradição entre discurso e prática na contestação do Executivo – uma covardia sem justificativa no bloqueio dos mais de cinquenta pedidos de abertura de processo de impeachment, impedindo-os que chegassem a debate do plenário.

ESSE CENÁRIO de horrores não encontrará alternativa recuperadora de um mínimo de civilidade se não for enfrentada por um processo radical de lutas sociais e institucionais, por parte dos partidos de esquerda e dos movimentos populares.

MEIAS-SOLAS legais, de objetivos limitados taticamente, e sem visão estratégica de mudança estrutural no aparelho do Estado, como meta das mobilizações, não levarão a nada mais que conforto e tempo para contra-manobra por parte dos atuais detentores do poder.

BOLÍVIA E CHILE, são nossos nortes, para além dos exemplos que nos vêm do radicalismo anticapitalista que se aglutinou em torno da campanha de Bernie Sanders, nos States, e dos movimentos sociais que abriram luta aberta, nas ruas, contra as atrocidades da repressão policial sobre as populações pobres e pretas.

NÃO SE TRATA, portanto, de doutrinarismos abstratos ou sectarismo inepto. Trata-se de radicalidade no combate ao que gera a resiliência bolsonarista nas sociedades civil e fardada. Não permitindo aos que gestaram tal cenário hoje serem apresentados como protagonistas da busca de soluções alternativas.

QUE VENHAM, mas com o rabo entre as pernas, e as sandálias da humildade. Sem arrogância calcada numa absoluta ausência de suas responsabilidades na tragédia social que se estende sobre o povo brasileiro. Entendendo que, para haver acordo nos acessórios, terão que recuar substantivamente no modelo promotor dessa acintosa desigualdade social que nos aflige.

Luta que segue! Pois, 2022 já está chegando.