RICARDO CAPPELLI: Parabéns, Freixo!

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Hoje os jornais oficializaram algo que já circula há algum tempo: Marcelo Freixo não será candidato à prefeitura do Rio. Como não houve desmentido até agora – e dificilmente O Globo daria esta barrigada -, considero que a notícia é verdadeira.

Se engana quem pensa que foi um ato de covardia ou deserção, muito pelo contrário. Já disse aqui algumas vezes que Brasília fez muito bem ao deputado do PSOL.

Sua posição madura e responsável no debate sobre o pacote anticrime foi um divisor de águas. Abriu mão do aplauso fácil que viria pela negação irresponsável e se movimentou de forma correta, apoiando o que foi o melhor resultado possível para o Brasil.

Políticos grandes tomam decisões deste porte. Há quem escolha os likes fáceis e imprestáveis das bolhas e dos guetos. Não foi o que ele fez. E não foi só neste episódio. Suas posições têm seguido este caminho. Sua decisão foi corajosa, em sintonia com a gravidade do momento político no Brasil.

Algumas questões devem ser consideradas:

1 – O Rio elegeu Witzel, Flávio Bolsonaro e Arolde de Oliveira. A maré não está para peixe. A briga real no estado hoje é entre a direita e a extrema-direita. Freixo tinha chances de vitória? Muito improvável, infelizmente. Ele tentou a unidade da esquerda. Ela não saiu. Por quê?

2 – A esquerda continua dividida no Brasil. No Rio não é diferente. Freixo teria que enfrentar prévias no seu partido. Setores do PSOL rejeitam aliança com o PT. Tudo dando certo, a chapa seria PSOL-PT. Freixo poderia ir ao segundo turno? As pesquisas indicam que sim, mas com o sectarismo de seu partido estava fadado a ser uma escada para a vitória de qualquer candidato da direita.

3 – Tudo indica que caiu a ficha de Freixo. Ninguém disputa poder real balançando bambolê e com figuras caricatas agarradas nas suas calças. Há um conjunto de deputados progressistas insatisfeitos com suas legendas em Brasilia. Pode vir coisa nova por aí após as eleições.

4 – É preciso considerar a questão humanitária. Freixo é o inimigo número 1 do crime organizado. Tudo indica que o assassinato de Marielle foi um recado para ele. No Rio não tem brincadeira. Vários planos de assassinato dele já foram desbaratados. A vida dele corre risco, real. Vale a pena brincar com a morte para marcar posição?

5 – A retirada da candidatura de Freixo é um tiro em Crivella. O atual prefeito, apoiado por Bolsonaro, sonhava enfrentá-lo novamente no segundo turno.

6 – Eduardo Paes passa a ser o grande adversário do prefeito. O PSOL lançará outro candidato, o PT vai lançar Benedita, o PDT vai de Marta Rocha, o PCdoB vai de Carlito Brizola. É pouco provável que estas candidaturas mobilizem algo além de suas militâncias. A base progressista difusa deve ir de Paes, o ex-prefeito apoiou Lula, teve um vice do PT, secretários da esquerda e é considerado um bom prefeito pela população. Sua gestão na saúde foi referência. A comparação com Crivellla será objetiva.

7 – Witzel se fortaleceu com sua postura na pandemia. Não terá candidato? Pode apoiar Paes? O primeiro objetivo de todos é vencer. O segundo é impedir a vitória do candidato bolsonarista. Se é fascismo, esta lógica pode fazer sentido.

O movimento de Freixo mexeu com o quadro numa vitrine do país. Foi manobra de gente grande. Chama a atenção para a fragilidade da esquerda que, ao que tudo indica, não terá nomes competitivos em capitais importantes como Rio e São Paulo.

Foi um ato de quem reconhece o fascismo como ameça real. Uma crítica, na prática, à divisão da esquerda, à visões partidistas mesquinhas que contradizem o reconhecimento da grave ameaça fascista.

O Rio perdeu um candidato. A esquerda pode estar ganhando um quadro importante para as batalhas futuras.

Parabéns pela atitude, Freixo! Tem meu profundo respeito.

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