Moro-Dallagnol: a base do romantismo fascista de Bolsonaro

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Que Bolsonaro é um romântico, não tenhamos dúvida. Ele sonha com algo que já passou e não volta mais. Na viagem ao passado como idílio futurístico, o mecanismo se aloja no simbólico da pretensa transformação – no caso, o rodo falso moralista e golpista da lavajato.

É quase similar ao sentimento da classe média tirando onda de revolucionária nas ruas pedindo a cabeça de Dilma Rousseff. Essa classe  média que apoiou o golpe e agora o governo atual sonhou com um passado, a exemplo das Diretas-Já ou do Fora Collor, achando que estava fazendo o futuro com suas próprias mãos. Em outras palavras, o passado da ditadura para Bolsonaro unido ao futuro ilusionista representado pela hipocrisia da República de Curitiba – dois impossíveis – um porque não somos mais o Brasil de 1964 e outro por conta  a máscara no chão.

O sentimento idílico do presidente se manifesta, por exemplo, em momentos de populismo saltitante, com a camisa do Flamengo, na arquibancada, ao lado do constrangido ex-juiz-agora-seu-ministro obrigado a virar rubro-negro de repente, para depois vir com a seguinte pérola: Médici também ia ao estádio e era aplaudido. Ou seja, ele sonha em ser o ditador em algum molde próximo dos presidentes  militares. Coisa impossível, claro, porque, como disse, o Brasil é outro, e até diversos setores das Forças Armadas querem esquecer esse negócio de ditadura.

Entretanto, evidente que não se trata de mero descuido do marketing político no reforço do seu jeito povão, que de povão ele não tem nada, convenhamos. Mas sim a estratégia inevitável de, na ausência de políticas públicas concretas, usar símbolos caros à sociedade brasileira para afetar multidões, seja em público ou nas redes sociais. Um deles, como todos sabemos, o combate à corrupção, que é anterior ao seu governo, mas que se constituiu como um dos pilares do edifício nazifascista de demolição da política.

O pilar-demolição pode parecer a aporia de um jogo de palavras, mas é isso mesmo: base-devastação, assunção de gente no poder que não tem nada de representação majoritária, no caso, a ideologia jurídica nazista que alguns amenizam com o nome de juspositivista e outros com a insígnia do pós-positivismo jurídico.

Nesse contexto, muitos analistas têm a percepção de que o embalo de Bolsonaro vai na onda dos movimentos de direita que vêm ocupando espaço em várias partes do mundo. Mas, as coisas não são bem assim, de favas contadas, a exemplo da tentativa fracassada do golpe tabajara na Venezuela e as mudanças no quadro político da Argentina, só para citar dois de nossos vizinhos.

O romantismo político, normalmente, confunde causas com efeitos por não dimensionar a extensão destes últimos como resultados das mudanças que vem ocorrendo na sociedade. O processo político é errático, assim como as próprias políticas públicas, apesar da intencionalidade necessária para se iniciar algum tipo de programa social, industrial, de infraestrutura ou em outras áreas. As coisas se iniciam, mas, muitas vezes, não transcorrem como os governantes desejam.

E Bolsonaro deseja algo do passado que não se encaixa mais no presente, a não ser numa configuração que implique muito sangue a montante e a jusante. Alguns acreditam que ele até aposta em confrontos de escoamento traumático, com base na sua tara por armas e gente armada em “defesa das famílias” brasileiras. Mas, entre as intenções e desejos e a materialidade do possível há um abismo  gigantesco.

No que toca ao escândalo do ex-juiz, com as novas revelações do The Intercept envolvendo o nome do príncipe neoliberal mascarado de social-democrata, claro que os “republicanos” de Curitiba vão negar até o fim a prática do conluio criminoso praticado por juiz e promotores. Entretanto, duas coisas inevitáveis: a primeira tem a ver com o fato de a política continuar dando as cartas porque até agora não inventaram outro mecanismo mínimo possível de sociabilidade.

A segunda é a imbricação imanente das tecnologias na política ou da política nas tecnologias. As novas armas da política colocam sempre uma incógnita nos desejos e nas possibilidades concretas dos governantes. Se Delfim Neto tinha ou continua tendo razão ao afirmar que FHC e Lula são políticos do século passado – Moro, Bolsonaro, fascistas, protofascistas, nazistas, imbecis e boçais não são o futuro, mas sim o passado transmutado em romantismo impossível.

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