Sérgio Moro deixa reunião da Câmara aos gritos de juiz ladrão e fujão

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, durante audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
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Depois de mais de sete horas depondo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, deixou a reunião aos gritos de juiz “ladrão” e “fujão”. A reunião foi interrompida em meio a um grande tumulto dos parlamentares, depois que o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) fez uma analogia da situação revelada pelo The Intercept com um hipotético jogo de futebol em que o juiz da partida beneficia um time, marcando um pênalti inexistente – e depois é nomeado para a diretora do clube vencedor da partida. Conclusão, disse o deputado: “juiz ladrão”.

Esse foi um dos pontos emblemáticos da sessão que revela, como outros indicadores, o termômetro do ambiente político no país. Em muitos momentos, Sérgio Moro se mostrou confortável, exibindo até meio sorriso refestelando-se na cadeira, como se já estivesse bem acostumado com esse tipo de sabatina entre políticos. Seu semblante se modificou com a intervenção do parlamentar do Rio de Janeiro, depois que outros deputados enfatizaram a tergiversação de Moro sobre o escândalo revelado nas últimas semanas sobre as conversas dele com o promotor Deltan Dallagnol para viciar o processo que condenou Lula à prisão.

Apoiadores de Moro aproveitaram a intervenção de Braga para terminar a reunião, sumariamente, atropelando o regimento, às 21h40m, apesar dos apelos da parlamentar que presidia a sessão naquele momento, pedindo para que todos sentassem a fim de continuar e encerrar formalmente os trabalhos. A parlamentar chegou a obtemperar diante dos protestos, dizendo que o deputado fluminense não usara palavras de baixo calão e que ele tinha direito de se manifestar.

Não foram para menos as perguntas incisivas de vários deputados e mesmo o ápice representado pela analogia feita por Braga. Sérgio Moro deixou de responder várias delas. Bem verdade que muitos aproveitaram mais para atacar Sérgio Moro do que para elaborar perguntas mais objetivas, compreensível, claro, nesse ambiente em que a eloquência dos fatos parece não ter mais o que suscitar de dúvidas. O ministro foi duramente atacado por conta das investigações da Polícia Federal sobre a situação no Coaf do jornalista do The Intercept, Glenn Greenwald, e cobrado sobre o paradeiro do Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Alguns momentos podem ter sinalizado também que estamos vivendo estranho regime contraditório e conflituoso em suas vísceras – o que corrobora as reservas com que Bolsonaro e seus filhos tratam Sérgio Moro. Se a psicanálise pode ajudar a desvendar certos lapsos da fala, talvez algo emblemático revelou e/ou comprovou sobre as ambições do atual ministro. Em determinado momento Sérgio Moro se referiu a Bolsonaro como “ex-presidente”, talvez pela intimidade com o momento e o conforto de estar ao lado de apoiadores no Parlamento. O deputado Helder Salomão, que presidia a sessão momentos antes do tumulto, chegou a chamar Moro de deputado.

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