Sobre a gerência de uma grande rede de educação

Por Cesar Benjamin - Acabam de me enviar um vídeo em que a Psicopata que dirige a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro fala de suas conquistas. É tudo patético, já objeto de galhofa na rede.
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Por Cesar Benjamin – Acabam de me enviar um vídeo em que a Psicopata que dirige a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro fala de suas conquistas. É tudo patético, já objeto de galhofa na rede.

Uma das coisas que ela diz me permite esclarecer uma coisa importante: como a Subsecretaria de Ensino trabalhava na minha gestão. Ela era, para mim, o coração de uma secretaria que deve ter na pedagogia o seu objeto mais nobre. Era ela que recebia minha maior atenção. Nós brincávamos, dizendo que nos mantínhamos em reunião permanente, sempre procurando aperfeiçoar as rotinas.

A Psicopata diz que, antes, distribuíamos publicações bimestrais para os alunos, e que ela as substituiu por livros anuais, mais baratos.

Devia ter vergonha de divulgar isso. Pois as apostilas eram bimestrais justamente porque a Subsecretaria de Ensino trabalhava em ciclos bimestrais, planejados de uma forma não trivial e muito inovadora. De forma sintética e simplificada, a Subsecretaria funcionava assim:

1. A Equipe de Atualização Curricular preparava provas bimestrais com o conteúdo que cada série devia estar estudando. Para isso, havíamos montado um “banco” com milhares de questões de provas já elaboradas.

2. Os professores aplicavam as provas e lançavam as notas no sistema informatizado (que havíamos modernizado muito), por aluno e por questão.

3. A Equipe de Informática e o Núcleo de Informações Estratégicas capturavam e processavam essa massa de dados, fazendo todos os cruzamentos possíveis (por séries, por escolas, por regiões da cidade, por idade, por disciplina, por temas, por alunos com conceitos insuficientes etc).

4. A Equipe de Avaliação estudava esses cruzamentos e identificava a situação pedagógica da rede em detalhes. Em cada bimestre, podíamos saber, aproximadamente, a posição de cada escola, cada turma e cada aluno em cada disciplina.

5. Essa análise era debatida com a Equipe de Supervisão, formada por 200 professores, cada um responsável por cerca de cinco escolas (a Educação Infantil tinha outra dinâmica). Esses professores-supervisores retornavam às escolas, levando as informações pertinentes, especialmente sobre os pontos fracos identificados. Sabíamos, em tempo real, quais alunos começavam a ficar defasados. Sabíamos que a turma X, da escola Y, não dominava bem um certo conteúdo de uma certa disciplina. E assim por diante.

6. Supervisores, diretores e professores montavam, então, no chão da escola, as estratégias específicas.

7. Com base nessa ampla avaliação, a primeira equipe preparava as publicações do bimestre seguinte. Fechava-se, assim, um ciclo bimestral e abria-se o ciclo seguinte, num movimento contínuo, que acompanhava a evolução do processo de ensino e aprendizado.

Havia muito a melhorar, numa rede tão grande, mas havia uma rotina racionalmente planejada, que já dava resultados evidentes.

Pois bem: quando a Psicopata assumiu, todas as equipes que citei acima foram desmontadas em questão de dias, sem terem sido ouvidas. A Subsecretaria de Ensino perdeu toda a experiência acumulada. Não ficou nada no lugar.

Por isto, como anuncia a Psicopata, as publicações bimestrais, que estavam inseridas nesta dinâmica, foram substituídas por publicações anuais, meramente burocráticas, simplesmente entregues nas escolas.

O que a Psicopata anuncia foi parte de um crime contra a educação pública do Rio de Janeiro. Ela devia se envergonhar.

Por: Cesar Benjamin.