Porcos, vacas e cabras

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Leandro Konder escreveu uma resenha crítica ao livro de Domenico Losurdo “Fuga da História?”. Konder criticou Losurdo por acreditar que o foco do socialismo, enquanto etapa de transição, não é o desenvolvimento das forças produtivas, mas a democracia socialista, combate às desigualdades, justiça, eliminação das formas de opressão etc.

A teoria de Losurdo do desenvolvimento das forças produtivas como elemento principal da transição socialista é problemática, mas Konder nem de longe chegou nos problemas centrais. Sua crítica a Losurdo tinha um pressuposto: é como se todo mundo tivesse o que comer, onde morar e água para beber.

Losurdo, com altas doses de ironia, comenta vários textos de Mao onde o grande dirigente comunista fala da necessidade de melhorar o trabalho econômico, criar mais cabras, porcos, vacas, melhorar a agricultura, aumentar a produtividade da “indústria” etc.

Vacas, porcos, cabras… coisas banais. Líderes comunistas, como Fidel, Mao, Sankara e tantos outros falam muito disso. Das coisas banais.

De fato, filosoficamente, não é interessante pensar como aumentar a criação de cabras. Cabras não rendem debates sobre ontologia, metafísica e dialética. Os problemas de aumentar a produtividade do trabalho para conseguir outras coisas banais, como casa para todo mundo, também são pouco charmosos. E imagina pensar os desafios de conseguir romper o monopólio dos países centrais da tecnologia para não ser afogado com um bloqueio econômico?

Os grandes temas da teoria não podem ter como pressuposto que a maioria das pessoas comem três vezes ao dia. Metade da população mundial não come três vezes ao dia. É preciso falar das vacas, porcos e cabras (espero que entenda a metáfora aqui).

Sovietes + eletrificação é a “fórmula” do socialismo, dizia Lenin. E Lenin, como quase sempre, estava certo.