Temer e a Coruja de Minerva

Temer e a Coruja de Minerva
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Por Christian Lynch – É conhecido o dito de Hegel, segundo o qual o sentido da história só se revela como ela acaba. A analogia é com a coruja de Minerva, que só se levanta quando cai a noite. Se Temer se juntar a Bolsonaro, ficará clara a continuidade entre os dois governos, entendidos como produtos da mesma reação à “revolução judiciarista” que queria desalojar o PT do governo à força e “purificar” o país da “velha política”

A “velha política” era aliada dos governos petistas. A “revolução Judiciarista” se direcionou contra ambas. A “velha política”, já com o caldo do retorno conservador, se desprendeu do PT declinante de Dilma e o derrubou, através de Temer, antes que a Lava Jato a exterminasse. O objetivo era tomar o governo diretamente e usá-lo para sobreviver, enfrentando, desarmando e reaparelhando o judiciário, ministério público, receita federal e polícia federal.

Bolsonaro é a “velha política”, com a diferença da lealdade histórica ao reacionarismo do regime militar, que o faria simplesmente um resquício da “velhíssima política”, no que ela tinha de mais truculenta e homicida. Há algo mais “velha política” que fazer dela puro meio de vida para si e sua família, metendo nos cargos de livre nomeação a filharada, e tentar protegê-los da corrupção que os sustenta por tráfico de influência?

Bolsonaro só se elegeu porque, no contexto de terra arrasada da “revolução judiciarista” desmoralizada por Temer, conseguiu simular ser seu próprio contrário – “a nova política”, um produto do lavajatismo e do liberalismo econômico -, pescando eleitores muito além da extrema direita. Não só conseguiu “simular”, como encontrou para sua farsa eleitoral a curiosa “ingenuidade oportunista” de Sérgio Moro e Paulo Guedes, que no governo não exercem outras funções, que as de iludir os patetas do judiciarismo e do neoliberalismo.

Uma vez vitorioso, Bolsonaro assume cada vez mais a sua pauta verdadeira, puramente reacionária e familiar. Rasga a fantasia lavajatista, radicaliza o aparelhamento dos órgãos judiciários e fazendários responsáveis pelo combate à corrupção; tenta dar um golpe de Estado e, diante do fracasso, se reaproxima de seus velhos camaradas da “velha política”, para evitar um impeachment.

Em síntese, Bolsonaro nunca teria foi a “conclusão lógica” da “revolução Judiciarista”. Foi agente de uma contrarrevolução, destinada a manter “a velha política” num ambiente de direita radical, para sobreviver. Um Temer reacionário, autoritário e analfabeto, mas com votos. Recorrendo à ditadura, se necessário. Porque, onde há autoritarismo, há plena garantia de impunidade para os seus. E impunidade não é um dos motes do atual governo?

Parece estranho, mas nessa interpretação, aos olhos da “velha política” que o apoia, Bolsonaro seria somente a restauração da boa e velha ordem, do tempo de Lula, com a diferença do sinal ideológico invertido. A “velha e boa política” que o centrão teria no tempo do PT, sem o PT. E até que ponto o próprio Bolsonaro não se percebe assim? Como um bizarro Lula de extrema-direita? Para o centrão, não faz diferença.

Por isso rogo ao ex-presidente: vai Temer, substituir o Araújo. Meta a mão nessa cumbuca. E nos torne, cristalino, em um lance único, o sentido político e ideológico da história contemporânea do Brasil.

Por Christian Lynch