Como será a “terapia de choque” neoliberal brasileira

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Crianças empinam pipa em favela no Rio de Janeiro. Fonte: CatComm
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O século de ouro brasileiro teve seu canto do cisne no ano de 1980, quando atingimos um terço da renda per capita norte-americana.

O que encerrou o mais longo período de crescimento da história brasileira foi a armadilha da dívida dos anos oitenta.

Durante décadas o crescimento brasileiro tinha sido financiado por um tripé: poupança interna, poupança interna artificialmente gerada por expansão da base monetária (emissão de moeda) e empréstimos externos a juros simbólicos (que superávamos em muito com nossa taxa de crescimento). Até que quando estávamos montados em uma pilha de dívida, com a desculpa da crise do petróleo, os EUA aumentaram os juros em até 20% ao ano e garrotearam nosso crescimento (e o de toda América Latina) criando uma espiral de dívida (depois transformada em interna) que nos imobiliza até hoje.

O governo Bolsonaro, que existe explicitamente para servir aos interesses norte-americanos, prepara uma série de novas armadilhas para nossa economia que nos devastarão como país numa escala nunca vista, o que comprometerá até mesmo nossa existência como potência agrícola, que sempre foi o projeto colonial das elites paulistas.

O primeiro desses movimentos já foi feito abrindo mão de nosso status especial na OMC, o que nos impedirá de proteger setores estratégicos de nossa economia, mesmo do agronegócio.

O segundo foi a liberação sem limites de todos os agrotóxicos proibidos internacionalmente para serem despejados em nossa produção de alimentos. Em breve, quando o país estiver de joelhos, o mundo começará a proibir a importação dos produtos brasileiros.

O terceiro será a entrada na OCDE, o que impedirá o país de ter uma política de compras governamentais capaz de incentivar o surgimento e a manutenção de setores estratégicos de nossa indústria.

Por fim, com o colapso completo da economia, eles dirão que nada mais há a fazer que não entregar a preço simbólico o que sobrou de nosso estado, o Banco do Brasil, a Eletrobrás e metade da Petrobrás (o resto dela já foi privatizado).

E é claro, dirão que isso tudo é culpa dos governos anteriores e seus “gastos”.

Não restará ao estado mais nenhum instrumento de indução ao desenvolvimento.

Não seremos mais nem sequer um fazendão.

Não existe nome degradante intelectualmente o suficiente para quem acredita que uma potência estrangeira tem interesse no desenvolvimento de outro país que lhe roubará mercados e diminuirá sua área de influência e controle de matérias primas.

O projeto dos EUA para nós é a destruição para que nunca mais ameacemos sua hegemonia na América Latina. O projeto da China para nós é que sejamos um grande campo agrícola a alimentá-los.

Mas até para sermos um campo agrícola e não uma colônia de escravos precisamos de estado e exército.

Uma nação não é um dado geográfico ou da natureza. Ela depende da determinação de seu povo em ser rico e independente.

No momento tudo o que podemos fazer é descrever o que acontecerá se seguirmos nesse rumo, e rezar para que ainda exista uma parte significativa de nossa elite econômica e militar que queira ter um país.

Porque o povo brasileiro foi convencido pela propaganda norte-americana em seus novos instrumentos de dominação, o Facebook e o WhatsApp, de que o problema do Brasil é o Brasil, e que sua desgraça é a galinha que roubou seu ovo, e não a raposa que acabou de entrar no galinheiro.