Causas do terrorismo de Estado na Argentina

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Quando se fala dos companheiros desaparecidos, quase sempre o que transcende ou é publicado é a versão policial. A história macabra de perseguição, captura, tortura e morte. A causa pela qual o imperialismo sequestrou, torturou e assassinou 30.000 vezes é raramente mencionada. O projeto político de libertação nacional a que pertenciam os companheiros permanece oculto. Os conceitos do slogan “Memória, verdade e justiça”, permanecem geracionais, doutrinários e socialmente curtos. Eles não testemunham a transferência, atualização e nacionalização da pátria socialista. As três razões que o terrorismo de estado veio destruir.

A crueldade do império parece gratuita, inexplicável, absurda. Faz as vítimas da doutrina da segurança nacional pessoas com uma péssima má sorte. Nenhum alvo estudado, perseguido, assassinado. Ademais, a crueldade com as militâncias de base, humildes delegados de fábrica, estudantes ou militantes comunitários, também tem um motivo de ser. Não por brutal e perverso, o terrorismo deixou de ser inteligente, lúcido e atroz.

Os desaparecidos não eram companheiros excepcionais além de seu compromisso revolucionário. Eles não eram nem “garotos de ouro” nem seres iluminados. Os homens são todos mais ou menos parecidos. Não são as qualidades pessoais que fazem a diferença, mas a causa a que elas servem. Lá, em sua causa, está toda sua grandeza, ou sua mesquinhez. Esse é o maior contraste entre os companheiros e seus captores.

A maior eloquência política não é o que é dito, mas o que é feito. E os delegados da base não eram tão importantes pelo que diziam quanto pelo que faziam. Repetidas vezes no trabalho, no corpo docente e na vizinhança, a militância para a libertação nacional deu testemunho de seu compromisso revolucionário.

Houve uma transferência geracional, atualização doutrinal e socialismo nacional. Então, sua própria vida foi seu discurso mais poderoso. Sua presença, o fato político testemunhal. Seus atos, sua maior eloquência. E, quando alguém faz da sua fala sua própria vida, a única maneira de silenciá-lo é … matá-lo.

Como emergente da atualização doutrinária, como transferência geracional e do Socialismo Nacional que o próprio Juan Domingo Perón encorajava em suas reuniões com ou (por ele batizado) formações especiais e em sua recusa em se reunir com Alvaro Alsogaray (a quem ele batizou como “o inimigo”) também ao se despedir do Che Guevara com a célebre frase “nos deixou o melhor de todos nós” e etc … A Juventude peronista criou a figura jurídica de parcerias e corporações do Estado (syces).

Forma argentina, ágil, poderosa e autodeterminada da propriedade social dos meios de produção. Impenetrável ao capital privado por excelência, mas aberto à participação das esferas municipais, estaduais e nacionais ou de outras SyCEs (Sociedades e Corporações do Estado). Era o Estado empresário, não bobo, cuja razão social foi baseada na vontade política soberana a renunciar ao capitalismo e a propriedade privada como uma razão para a tarefa industrial, comercial, financeira e agrícola. Fatores de escala simultâneos, integração de valor agregado, associatividade expressa e todo estatal! … Os radares imperiais foram colocados em alerta vermelho.

Perón com um toque gramsciano reconhecível à primeira vista, imposta pelo Rengo Robledo, então ministro da Defesa, a nomeação de diretores trabalhadores em todas as fábricas responsáveis ​​que, obviamente, eram militares principalmente, ou na sua totalidade. O argumento não poderia ser melhor: se os trabalhadores são os verdadeiros criadores de riqueza, por que eles não deveriam participar de sua administração? É justo que quem trabalha sabe mais e melhor sobre o destino do que produz. A surpresa foi quase tão grande quanto o escândalo. Perón estava à esquerda da Juventude Peronista!

Mais cedo do que canta um galo, as estruturas conservadoras e revolucionárias receberam a tarefa de responder disputando essas posições no diretório que o General Perón tão generosamente lhes oferecia. Na cidade de Ensenada, o ARS (Estaleiro Rio Santiago- empresa estatal), o montonero Negro Vicente participou pela primeira vez da assembléia geral e entrou na história como primeiro diretor de operários. Mas aos dois anos ele foi substituído por Bertita Di Plácido, do grupo Ortodoxo Azul e Branco da ATE Ensenada. José Tacone, em SEGBA, Serviços Elétricos da Grande Buenos Aires, pode ter sido o paradigma mais transcendental e empírico de competência profissional, sem diploma universitário.

Esquecendo essas e outras iniciativas políticas, que foram protagonistas, Jorge Astudillo faz perder a causalidade da sua militância, além de seu desaparecimento forçado. O relato policial de suas dificuldades não lhe faz justiça. Nem memória. Não é verdade. Deixa de lado o que mais amava: um projeto argentino de libertação nacional. Para a Argentina e a Pátria Grande. Universalista e proletário. Com um sotaque riopratense e do pacífico. Socialismo Nacional. Mas com uma dinâmica e energia que os países da URSS já haviam perdido, se é que o tiveram. Para matar isso, eles desapareceram. Toda essa iniciativa de classe desapareceu no dia 24 de março de 1976.

Por Social XXI – La Tendencia

Tradução: Daniel Matos