The Intercept como linha de frente do anticomunismo

JONES MANOEL The Intercept como linha de frente do anticomunismo
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O alvo não foi Flávio Dino, mas toda esquerda radical do Brasil. O caso da desapropriação da comunidade de Cajueiro, no Maranhão, foi trágico e bizarro. Dino errou feio ao lavar as mãos e dizer que pedido de reintegração de posse é de competência do judiciário e não do governo do estado. Sim, é de responsabilidade do judiciário, mas, no mínimo, o executivo estadual pode atuar para não existir violência. Na época, critiquei Dino e mantenho todas as críticas.

A matéria do The Intercept, contudo, não é sobre a comunidade do Cajueiro. O caso é usado apenas como plano de fundo. O Governo do Maranhão e Dino não foram ouvidos. A matéria junta uma série de casos diferentes, confunde, distorce e trata iniciativas privadas – não tenho dúvidas que com apoio, ainda que tácito, do governo – com públicas e busca construir uma narrativa que é assim: os malvados chineses – praga amarela de gafanhotos? – em parceria com os malvados comunistas do PCdoB atacando os indefesos povos originários.

O tom é sensacionalista, a estrutura narrativa é anticomunista e antichinesa. Não existe um debate sério sobre a atitude da China de apenas respeitar as leis locais – os chineses, a partir dos seus princípios diplomáticos, dizem que não interferem nos assuntos internos de cada país, para o bem e mal, e atuam de acordo com a lei. Essa atuação precisa ser debatida. Uma Revolução Brasileira terá, necessariamente, que rever vários contratos com os chineses e expropriar alguns empreendimentos. Mas a lógica de apropriação do espaço é uma característica especial dos chineses ou é parte da dinâmica interna da economia? Os chineses, em comparação com outros capitais, como atuam? Nenhuma dessas perguntas básicas e fundamentais é feita.

A matéria passa todo o tempo caricaturando Mao e os valores da Revolução Chinesa. É um ataque aos marxistas, socialistas e comunistas no Brasil. Não se trata de defender Flávio Dino – isso é tarefa para quem é do PCdoB. Mas perceber que o básico do jornalismo, como ouvir “todos os lados”, não foi feito e que toda estrutura narrativa tinha um alvo certo: demonizar o marxismo.

Coincidência? Não sou mais jovem para acreditar no acaso. O editor do veículo, Leandro Demori, já deixou claro que está em guerra aberta com a esquerda revolucionária do país. Depois do ataque ao meu nome, poucos dias depois, essa matéria. Sem falar na atuação dos jornalistas do The Intercept que estão dia sim e dia não também falando merda da esquerda revolucionária nas suas redes.

O The Intercept ajudou, meses atrás, a apertar Sergio Moro e a turma da Lava-jato. Agora seu alvo são os marxistas.

Atacar a Lava-jato rendeu dinheiro. Atacar os marxistas não rende dinheiro. Atende a outros interesses. Quais?

  1. Jones Manoel X The Intercept Brasil: Talvez Lula estivesse ainda preso, ou saísse portando tornozeleira, sem a ação da Vaza Jato! O que o TIB fez, foi ampliar e jogar peso no fato de que o jornalismo necessita constantemente, ser um ferrenho opositor ao Estado que está longe de ser instrumento da classe proletária como meio de sua autodeterminação. Ao contrário, projeta-se como estrutura de conflito de classes. E no caso, o governador do Maranhão atendeu a estrutura do Estado. Onde está a questão de perseguição da Esquerda nesse meio, não dá para ver. E o artigo parece bem fundamentado em informações subsidiárias. Os dois casos narrados, “Jambuca” e “Cajueiro”, acabaram sendo objeto de disputas no judiciário. Trata-se de reportagem razoavelmente bem amarrada. A China não se tornou global para acabar com a miséria do mundo, embora sua ação nesse ponto, assim como a da Rússia, reequilibre a supramacia morte americana na América Latina.

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