Um chamado aos trabalhistas: em defesa da aliança PDT – PSB

Por Felipe Augusto Ferreira – Esse chamado é dirigido à militância trabalhista, apoiadores e simpatizantes do Projeto Nacional de Desenvolvimento de Ciro Gomes, sejam filiados ou não ao PDT.

Uma grande novidade surge na política brasileira: a consolidação da aliança PDT – PSB para apoio mútuo em diversos municípios pelo Brasil. Em São Paulo o candidato da aliança será o ex-governador Márcio França (PSB), que terá o companheiro Antonio Neto (PDT) como vice. Em Porto Alegre a aliança produziu a primeira chapa feminina da história de Porto Alegre, com Juliana Brizola (PDT) e Maria Luiza Loose (PSB). No Rio de Janeiro a candidata da aliança será a Martha Rocha (PDT). Em Fortaleza, que é a principal cidade que o PDT governa hoje, José Sarto (PDT) e Élcio Batista (PSB) integram uma frente ampla de continuidade com quase uma dezena de partidos na qual defenderão a gestão pedetista contra o candidato do bolsonarismo. E em Recife, principal cidade governada pelo PSB, o candidato da chapa será o deputado João Campos, com vice do PDT.


A estratégia aliancista do PDT com o PSB integra uma estratégia de fortalecimento das bases partidárias municipais para eleger vereadores, prefeitos e vice-prefeitos com vistas à viabilização e fortalecimento da candidatura de Ciro para 2022. Não tenham dúvidas: essas alianças foram negociadas com o indicativo por parte do PSB de apoio à candidatura de Ciro em 2022.

Trata-se de uma estratégia coerente com o objetivo nacional do partido. O Brasil é um país complexo de governar, é uma república federativa com três esferas de governo, e um sistema partidário hiperfragmentado. É uma ilusão achar que um partido político, por maior que seja, tem condições de bancar candidatura majoritárias em todos os 5568 municípios do Brasil. Mesmo se considerando apenas os 96 maiores municípios (aqueles com mais de 200 mil habitantes e que portanto têm 2º turno), para um partido médio como o PDT é mais inteligente fazer alianças com outras legendas de mesmo porte (como o PSB) para ampliar o tempo de TV da chapa nos palanques que o partido julgar prioritários, enquanto apoia os seus aliados nos palanques que forem prioritários para eles. É uma troca com benefícios mútuos tangíveis.

Para quem não sabe, o fundo partidário e o tempo de TV das legendas é distribuído proporcionalmente com o tamanho da votação que o partido recebeu para a Câmara dos Deputados. O PDT de hoje é uma legenda média, com 28 deputados federais, que recebeu 4,63% dos votos proporcionais no Brasil inteiro em 2018. Enquanto isso o PT é o maior partido da Câmara, elegendo em 2018 56 deputados e fazendo 9,44% de votos proporcionais em 2018 (mais que o dobro do que fez o PDT)[1]. A estratégia que a burocracia petista adotou para essas eleições, sob orientação de Lula, foi de lançar candidatura própria no maior número de municípios – mesmo em municípios em que o partido não possui chance nenhuma de vitória – possíveis para que estas “defendam o legado do PT”[2]. O PT tem tempo de TV e fundo partidário suficiente para bancar essa estratégia. O PDT não. Quando se é um partido médio, gastar o escasso fundo partidário bancando candidaturas inviáveis em dezenas de municípios, em vez de fortalecer candidaturas em municípios prioritários com chances reais de vitória, não é uma estratégia política inteligente. Por isso para um partido do nosso porte a estratégia aliancista se revela mais adequada para elegermos o maior número possível de quadros municipais (prefeitos, vice-prefeitos e vereadores) que possam difundir o Projeto Nacional de Desenvolvimento pelo Brasil.

Convenção Municipal do PDT de São Paulo, realizada em 12 de setembro de 2020, e que referendou a chapa Márcio França (PSB) e Antonio Neto (PDT)

Para o PDT, cidades como Fortaleza, Porto Alegre e Rio são prioritárias nessa eleição, por isso nelas indicamos a cabeça de chapa na aliança. Já o PSB tem dois municípios prioritários nessa eleição: São Paulo e Recife. Em São Paulo referendamos a chapa Marcio França – Antonio Neto com apoio praticamente unânime do Diretório Municipal, e será esta chapa, e somente esta, que será a representante do trabalhismo na maior cidade do Brasil. Se tanto criticamos as práticas de hegemonismo político do PT, por coerência o mínimo que é exigido de nós trabalhistas é que apoiemos os candidatos majoritários nas cidades que o nosso principal aliado nessa eleição considerar prioritárias para si, como forma de reciprocidade ao apoio político que o PDT está recebendo do PSB nos nossos municípios prioritários.

Para se ter uma ideia do peso que carrega o conceito de reciprocidade, o PDT enfrentará em Fortaleza uma eleição difícil contra o representante do bolsonarismo Capitão Wagner, e o PSB indicou o vice do companheiro José Sarto. Já imaginou se o PSB local resolvesse apoiar a candidata do PT Luizianne Lins? É exatamente isso o que significa o apoio do PDT à candidatura de João Campos em Recife.

A chapa do PDT em Fortaleza será composta por José Sarto (PDT) prefeito e Élcio Batista (PSB) vice

Como bem vimos nas eleições de 2018, é ilusório acreditar que teremos condições de ter uma candidatura viável do Ciro em 2022 sem fazer alianças. Não se iludam, os acordos com o PSB e com outros partidos como REDE e PV têm sim como pano de fundo a eleição de 2022, com possibilidade ainda de atrair outros partidos. Por isso qualquer tentativa de sabotar essa aliança não deixa de ser uma forma de tentar sabotar a candidatura do Ciro em 2022 e portanto a possibilidade de elegermos um Projeto Nacional para livrar o Brasil do bolsonarismo. Nenhum interesse personalista ou paroquial está acima do compromisso com o Projeto Nacional, e principalmente do compromisso de salvar o Brasil de um governo vende-pátria e anti-povo.

Pior do que tentar sabotar um possível aliado estratégico para o Ciro em 2022, é sinalizar a possibilidade de declarar apoio a candidaturas do PT contra candidaturas da aliança PDT-PSB. Porque aí já não se trata apenas de prejudicar um partido aliado, mas sim de ajudar a fortalecer um palanque que será hostil ao Ciro e ao trabalhismo em 2022. Não podemos nos iludir: candidatas como Marília Arraes, Luizianne Lins e Benedita da Silva se eleitas apoiarão a candidatura do PT em 2022 contra a candidatura do PDT. A história mostra que não podemos ter a ilusão de que caso o PT ganhe essas prefeituras não tentará usá-las para tentar sabotar a candidatura de Ciro em 2022, assim como fizeram em 2018.

Isso deixa claro que trabalhar pelo PT nas eleições de 2020 é trabalhar contra Ciro e contra o PDT nas eleições de 2022. É mais do que um ato de indisciplina, é um ato de traição ao trabalhismo e ao Projeto Nacional de Desenvolvimento, que é a única esperança de salvar o Brasil de mais 4 anos de um governo entreguista, fascistóide e ultraliberal. Não esqueçamos que PT é a esquerda Golbery, criada pela ditadura militar para impedir a vitória de Brizola em 1989; é a esquerda que fez oposição sistemática aos governos Brizola no Rio, que sabotou a candidatura de Darcy Ribeiro ao governo do Rio em 1986; e que sabotou a candidatura de Ciro em 2018 para não perder a hegemonia da esquerda, mesmo sabendo que isso levaria à eleição de Bolsonaro. A repetição da polarização com o lulopetismo é tudo o que Bolsonaro mais deseja para se reeleger[3], e a última coisa que os trabalhistas precisam é facilitar o trabalho do Bolsonaro fortalecendo palanques do PT nos municípios, que serão os futuros palanques de Lula em 2022.

A fim de conseguirmos firmar raízes sólidas nos municípios em 2020 para chegar com força para 2022, é fundamental que a militância trabalhista tenha organização, disciplina e foco no Projeto Nacional em detrimento de egos e vaidades pessoais. Sabemos que o nosso partido está em reconstrução, e que nem sempre as alianças acertadas pelos dirigentes podem ser as que mais agradam parte da militância. Se houver municípios em que os acertos locais tiverem coligado o PDT a candidaturas que a militância considera ruins, sugiro que foquem o trabalho para eleger o máximo de candidaturas a vereador pelo PDT que sejam alinhadas com o trabalhismo e o PND – inclusive para ganhar musculatura interna nas disputas partidárias. Mas nunca, jamais, ajudar a fortalecer os inimigos do trabalhismo, à direita e à esquerda. E muito menos colocar projetos personalistas de poder acima da necessidade e da urgência de salvar o Brasil da catástrofe bolsonarista em 2022.

Como dizem no peronismo, “primeiro a Pátria, depois o partido, e por último o ego dos homens”.

Por Felipe Augusto Ferreira, graduado em Relações Internacionais pela USP, funcionário público e membro da Executiva Municipal do PDT de São Paulo

Referências

Referências
1 https://www.nexojornal.com.br/grafico/2018/10/10/Quais-partidos-passaram-pela-cl%C3%A1usula-de-barreira-em-2018
2 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/01/pt-endossa-tese-de-lula-por-candidatos-proprios-e-tenta-evitar-previas-em-sp.shtml
3 https://veja.abril.com.br/blog/noblat/bolsonaro-torce-por-lula-livre-e-candidato-em-2022/
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