O último líder nacional: Uma resenha de ‘Projeto Nacional: O Dever da Esperança’

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Do momento em que Leonel Brizola morreu, em 2004, até 2015, a única coisa que me fazia despertar de uma horrível espécie de transe era ouvir Ciro Gomes falar sobre o Brasil.

Nesse transe em que eu vivia naqueles anos, me sentia como um extraterrestre que via um país que ninguém mais via, falava ou ouvia.

Mas, de vez em quando, Ciro dava uma entrevista a algum veículo e subitamente todos aqueles temas e palavras proscritas reapareciam: política industrial, a exploração do rentismo, política de juros impedindo o desenvolvimento, imperialismo interditando nosso país, justiça fiscal, consumismo como mal social, desindustrialização, centralidade da educação pública de qualidade para o desenvolvimento, tecnologia nacional, necessidade de investimento público, de Estado empreendedor, soberania, Nação e, finalmente, projeto nacional de desenvolvimento.

“Projeto nacional de desenvolvimento”, eu ouvia um pouco chocado. Parecia então que falar essas palavras no Brasil levava a alguma espécie de sentença de morte, ou que a qualquer momento o dono da emissora iria mandar cortar seu microfone.

Porque ninguém mais falava disso. Desde o fim do regime militar e da formação da hegemonia neoliberal petucana, a ideia de que nosso desenvolvimento deveria ser planejado e capitaneado pelo Estado havia se tornado herética. E essa era simplesmente a ideia que fez do Brasil o país que mais cresceu no século XX.

Foi então que, logo depois do abjeto estelionato eleitoral de Dilma em 2015, recebi a notícia da filiação de Ciro Gomes ao PDT. Conhecendo as limitações financeiras do partido, entendi aquilo como um mandato do destino para deixar em segundo plano minha querida e tranquila vida de professor e voltar à minha casa política.

Então aqui vai um pouco de minha história com a obra. Já nos idos de 2017, Ciro me manifestou a vontade de escrever um novo livro, onde pudesse atualizar sua proposta de projeto nacional mas ao mesmo tempo especular sobre alguns problemas estruturais da esquerda e da sociedade contemporânea. Sabendo da rotina sobre-humana à qual ele já se submetia então, propus a ele transcrever algumas de suas palestras para ajudar na empresa. Ele topou.

Mas o avanço do ritmo de campanha acabou tornando impossível para ele escrever o livro naquele momento, e o adiou para um futuro incerto.

No entanto, depois da campanha eleitoral e das merecidas férias, Ciro retomou o projeto. Teve, finalmente, algum tempo para isso, mesmo continuando numa agenda de campanha que não cessou nem com o começo do isolamento social. Agradeço a ele pela honra e confiança de poder voltar a ajudar, dessa vez com a conferência dos dados e intermediação da revisão por colaboradores como Mauro Benevides e Nelson Marconi.

No primeiro momento que ouvi o título depois da última revisão, confesso que achei longo e formal. Hoje já parece que não poderia ter sido outro. Porque o livro é todo sobre como tornar a esperança de um país em seu dever. É disso que se trata um projeto nacional: a esperança de uma nação transformada em metas, prazos, responsáveis, prêmios e punições, como ele gosta de repetir.

O livro recoloca a questão nacional no centro do debate. Diante do diagnóstico de que os males de nosso país são causados por nossa inserção subordinada na economia mundial, oferece a conclusão de que somente uma frente política genuinamente nacional munida de um projeto para o país pode nos salvar da destruição.

Hoje, o leitor familiarizado com as palestras de Ciro encontrará em “O Dever da Esperança” não só o miolo básico das horas de palestras disponíveis na internet, mas um livro único e inusitado, que conta parte da história recente do Brasil por um de seus artífices, apresenta propostas para o país exemplificadas por realizações concretas próprias e alheias, especula sobre problemas teóricos e políticos mesmo sendo escrito por um candidato que por lógica eleitoral deveria fugir de definições e polêmicas.

É por isso que, mais do que do livro, que muitos falaram e virão a falar, eu quero falar aqui um pouco do autor. Ciro corre esse risco porque sabe que hoje é muito mais do que um candidato. Ele é o líder responsável pela ressurreição no Brasil de todo um campo político, o do trabalhismo nacional-desenvolvimentista. E a lógica de um líder político é organizar um campo, lançar ideias, debater um projeto, trazer à pauta nacional temas que os outros campos interditam.

Mais do que isso, Ciro é o último líder político nacional em atividade no Brasil. Não há como evitar aqui acusações de bajulação, mas eu tentarei explicar. Há hoje em nosso país, obviamente, ainda muitos líderes políticos, alguns regionais, outros eleitorais, outros identitários, outros partidários, outros ainda de clãs.

Mas não resta ao Brasil mais nenhum quadro da estatura de Ciro Gomes que não tenha desertado da missão de construir a ideia da Nação Brasileira. Livre, soberana, desenvolvida, justa, mestiça, única. Que pense num projeto para todos os brasileiros, universal, que dilua as fronteiras econômicas, sociais, étnicas, de gênero, orientação e cor de pele, e não as reifique. Que ao mesmo tempo dispute eleições e formule, represente e quando necessário nade contra a corrente, organize e defenda, a qualquer custo, um conjunto de ideias formadoras, de projeto de nação soberana e não subordinada.

Ciro é o nosso último platônico, daqueles políticos tão escassos que acreditam que a verdadeira política é uma tarefa de educação de massas, de debate de ideias em busca da verdade. Para ele, o verdadeiro campo de batalha da política são as mentes individuais. E esse é o sentido de sua atuação, “ajudar o nosso povo a entender”, “apostar na inteligência do povo brasileiro”.

Estamos hoje cercados de demagogos que escolhem palavras e posições ao sabor de suas estratégias eleitorais, das conveniências da grande mídia, do monitoramento do ambiente das redes; políticos que não só são ignorantes, mas anti-intelectualistas apologistas da ignorância.

Ciro ao contrário não só defende uma visão própria de país como nadou contra a corrente dominante do neoliberalismo por trinta anos. Em vez de fugir da inteligência nacional, a procura. Em vez de ser pautado, pauta o debate nacional. Hoje, o destino e a realidade lhe sorriram. Tudo o que defendeu a vida inteira se impõe ao mundo como única saída da crise terminal do neoliberalismo precipitada pelo Coronavírus.

Hoje, o inveterado pregador então solitário do imposto sobre lucros e dividendos, do IVA, da queda dos juros, do aumento da poupança interna, do aumento do investimento do Estado, do aumento da taxação dos ricos, da necessidade de projeto nacional, de serviço de informação, de política industrial, obriga todo o mundo político a se posicionar sobre esses temas.

“O Dever da Esperança” é a “Carta ao Povo Brasileiro” de Ciro Gomes. Mas uma carta com muito mais conteúdo e muito diferente daquela triste rendição do PT de 2002. Essa carta tem a sua cara: insolente, corajosa, coerente e brilhante. Ao invés de um “sou uma metamorfose ambulante” ou um “esqueçam o que escrevi”, é um “não me renderei!”.

Ciro reitera as mesmas lutas de 40 anos de vida pública e mostra o fio de sua história se conectando ao fio da história do trabalhismo brasileiro. O casamento entre a social-democracia de toda sua vida política e sua versão nacional no trabalhismo foi tão natural que parece que nunca teve que acontecer.

Neste livro você verá não o retrato de um candidato, ou de um líder eleitoral ou popular, mas o de um homem e de um líder nacional que pensa originalmente o Brasil, de um legítimo herdeiro e atualizador da tradição trabalhista e nacional-desenvolvimentista brasileira.

Um homem dotado extraordinárias qualidades, que raramente são vistas na mesma pessoa. E um líder nacional não se faz da ausência de defeitos, mas da presença de qualidades extraordinárias que se tornam imperativas em um determinado momento histórico.

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