Um governo conflituoso e paralítico

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Por Christian Edward Cyril Lynch – Para entender a acefalia do governo Bolsonaro em certas áreas, ajuda saber que em 18 anos como deputado ele nunca se ocupou de temas como saúde, saneamento, educação, transportes, cultura e infraestrutura. Também foi sistematicamente contra políticas voltadas para os pobres.

Quando fala de educação, é somente sobre kit-gay; sobre agricultura, para protestar contra MST e demarcação de terras. Bolsonaro foi contra o Bolsa Escola e o Fome Zero. O Bolsa Família, só depois de laqueadura e vasectomia.

Bolsonaro montou um governo à sua imagem e semelhança. Autoritário, mas, ao mesmo tempo, vazio de conteúdo a respeito de temas centrais da vida brasileira, como saúde, educação, saneamento, transporte, cultura e infraestrutura. Tudo isso é para ele absolutamente indiferente.

É a indiferença de Bolsonaro que lhe permite nomear qualquer um para ocupar os cargos daquelas pastas, desde que o obedeça. Não há diretrizes técnicas. Como a fidelidade é o critério supremo, a qualificação técnica é desnecessária. Porque o próprio assunto é considerado inútil…

Isso explica porque são nomeados amigos e apaniguados ou militares para todas aquelas áreas, é porque Bolsonaro está pouquíssimo interessado dobre o que acontece nelas. O importante não são as políticas setoriais, e sim que uma obediência genérica à sua orientação reacionária.

O problema é que o objetivo desse pensamento reacionário – retroagir para 1969 -, é um objetivo absolutamente impossível. A recusa em olhar para adiante explica por que o governo como um todo se caracteriza menos pela ação e a proposição, do que a inércia e a reação.
O governo não tem plano, que não seja tentar parar a roda da história, paralisar o movimento da sociedade, petrificando-a. Os planos surgem sempre de reações aos planos dos outros; trata-se sempre de impedir que os outros façam alguma coisa.

O não-enfrentamento da pandemia reflete essa postura às maravilhas. Um exame cuidadoso demonstra que desde o início o governo não sabia o que fazer, e orientou-se sempre de forma improvisada conforme a necessidade de reagir contra esse ou aquele inimigo, ou essa ou aquela crítica. Não houvesse conflito, não haveria governo.

Uma vez que o governo não tem norte administrativo em coisa nenhuma – nada que não se limite a “não-fazer” – ele fica empedrado, só se mexendo para se defender ou atacar os adversários. Nem faz sentido recriminar Bolsonaro por contribuir para que o Brasil tenha outra década perdida. Para ele, será um elogio, porque, para ele e para os seus, década perdida é década ganha.

E o Brasil fica como uma fábrica fechada, inativa, paralisada, vigiada por cães raivosos, contra qualquer um que queira entrar para colocar qualquer de suas seções em funcionamento.

Por: Christian Edward Cyril Lynch.