A vaca, o burro e o leão no império de Bolsonaro

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Quando chegou ao paraíso a notícia da ascensão de Bolsonaro, Deus, que não andava dando muita atenção a essas plagas desde que proliferaram falsos pastores usando seu nome para enriquecer, resolveu se assuntar da novidade. Como sabemos no céu os animais vivem em convivência e harmonia com os humanos, passava uma vaca no momento e o Altíssimo determinou-lhe a incumbência: “vá ao Brasil e veja o que se passa.”

A pobre vaquinha retornou tão debilitada que sequer conseguiu apresentar seu relatório, esquálida e doente, coberta de úlceras e feridas, exaurida com as tetas sangrando de tanto serem sugadas. Tinha sido posta a trabalhar em jornadas pesadas, explorada ao máximo e quando nada mais tinha a dar enviada ao matadouro. O Senhor atônito, bradou incontinenti:  “chamem o leão.” O rei dos animais veio a terra então incumbido da investigação.

Retornou em estado pior ainda que sua triste antecessora, com ossos quebrados, chamuscado, crivado de balas, sem dentes, com os olhos vazados, a juba raspada e sem nada a relatar, pois ao seu primeiro rugido, foi atacado ferozmente por homens cruéis, encapuzados e fortemente armados, não tendo visto portanto nada além de bestial violência. Chocado em ver tão portentosa criatura em estado deplorável, e ceda vez mais intrigado em saber o que se passava, enviou na missão a primeira criatura em que deitou os olhos, um simplório burrico.

Eis que o asno retorna gordo, com o pelo lustroso, casco polido, coberto de medalhas e honrarias, lúcido e orientado, portanto, finalmente capaz de relatar a situação. Uma multidão de anjos, arcanjos, santos e almas piedosas de toda parte acorrem para satisfazer a curiosidade geral, o próprio Cristo toma assento ao lado do Pai e faz a pergunta de todos: “então animal abençoado, que me carregou ainda no ventre materno, o que se passa”?

O animalzinho, um tanto intimidado pela atenção a ele dispensada e dentro de suas limitações cognitivas, começa a falar um tanto inseguro:”Bom assim que cheguei fui mandado para um tal de ministério, não entendi bem o que era isso, mas não causou espécie, pois meus colegas também parece que não tinham a menor ideia do que faziam lá, a vida era boa comia do bom e do melhor, viajava para onde queria e não precisava fazer nada, cada vez que eu zurrava era ovacionado e me senti muito querido, tanto que vim fazer o meu relato com o compromisso de voltar logo, pois querem que eu seja candidato a ocupar um negócio lá chamado prefeitura.”

Jesus satisfeito com a explicação, interrompe o relato com um gesto e fala: “Eu não disse Pai, é o fascismo novamente,” o Senhor dispensa a corte celestial e escala um arcanjo como emissário: “Vá a saída do purgatório e mande uma mensagem para Lúcifer, diga para abrir espaço nos embornais destinados a Hitler e Mussolini, que uma nova leva de almas sujeitas a mesma danação logo chegará”.

Esta é uma adaptação de uma anedota que ouvia de minha avó Maria Cattaneo sobre o governo de Mussolini em sua terra.

Por Eduardo Papa, professor, jornalista e artista plástico