Sem voto útil em Martha Rocha, Bolsonaro poderá manter sua influência no Rio de Janeiro

FERNANDO MENDONÇA: Sem voto útil em Martha Rocha, Bolsonaro poderá manter sua influência no Rio de Janeiro
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Por Fernando Mendonça – Jair Bolsonaro: “Um [nome] lá, que é de um partido X, o tal do Ciro Gomes falou que se ela ganhar vai ser chefe da Casa Civil dela. Terrível, né”. A frase acima foi proferida pelo Presidente da República em uma de suas lives, ao comentar acerca das eleições municipais do Rio de Janeiro. A frase, por mais simplória que pareça, diz muito em suas entrelinhas.

Mesmo com a forte presença de Bolsonaro em sua campanha, as intenções de voto do atual prefeito Marcelo Crivella permanecem baixas às vésperas das eleições, o que possibilitou a aproximação de outros candidatos, em especial Da Delegada Martha Rocha, do PDT de Ciro Gomes.

Bolsonaro conseguiu uma proeza nas eleições cariocas: de ter três candidatos na corrida eleitoral para a Prefeitura. Primeiramente, o atual prefeito Marcelo Crivella (REPUBLICANOS), em uma tentativa de agradar à Igreja Universal e à Rede Record, dois fortes apoiadores do governo federal. O segundo candidato que conta com o apoio presidencial é Luiz Lima, ex-atleta, que se elegeu deputado federal com discurso muito parecido com o do grupo político dos Bolsonaros e da nova extrema direita conservadora nacional. O apoio a Luiz Lima é mais envergonhado, exatamente para não prejudicar a campanha de Crivella.

Já o terceiro candidato de Bolsonaro e seu grupo político é um aliado de última hora e fruto das circunstâncias, o ex-prefeito Eduardo Paes. Paes é líder nas pesquisas, mas ao mesmo tempo, possui uma forte rejeição para o segundo turno. O melhor dos mundos para Paes seria um segundo turno contra Crivella, único candidato com índices de rejeição maiores que o dele. Por essa razão, o ganho de força da candidatura de Martha Rocha ligou sinal de alerta na campanha do candidato do DEM, o que teria incentivado a aproximação com Bolsonaro, visando principalmente eventual segundo turno entre Paes e Martha Rocha.

Ante o real risco de que o atual prefeito fique de fora do segundo turno, correm fortíssimos boatos de que já haveria um acordo costurado entre Eduardo Paes e o clã Bolsonaro para um possível segundo turno entre Paes e Martha Rocha. Seguindo um caminho já esperado, pois há poucas dúvidas que Paes não teria dificuldade em criar “boas relações” com Bolsonaro em eventual governo. Não foi por acaso que Bolsonaro disse estar “tudo bem” não votar em Crivella, se referindo claramente a Eduardo Paes, o qual até recebeu elogios do presidente.

A tendência natural é que, às vésperas da eleição, vendo a impossibilidade de vitória de Luiz Lima e a disputa acirrada entre Crivella e Martha, muitos eleitores de Luiz Lima façam o famoso “voto útil” e migrem para o Bispo. Em uma disputa tão acirrada, quaisquer 2%, 3%, podem ser vitais, numa disputa que está cabeça a cabeça.

Por isso mesmo, é importante que a esquerda carioca, o campo progressista, abra os olhos e perceba que não pode permitir uma nova vitória bolsonarista no Rio de Janeiro, a exemplo do que aconteceu com Wilson Witzel em 2018.

A candidata Renata Souza, do PSOL, ao que tudo indica, não tem chances de chegar ao segundo turno. Já Benedita da Silva, do Partido dos Trabalhadores, apesar de estar próxima de Martha e de Crivella nas pesquisas, em um eventual segundo turno contra Eduardo Paes encontra-se muito atrás do ex-prefeito, parte por atrair o voto “anti-PT”, ainda muito forte em nossa sociedade, parte por ser vista como “mais do mesmo” pelo grosso do eleitorado.

Benedita encontra-se estagnada nas pesquisas, podendo levar para o limbo votos importantíssimos que permitiriam um candidato progressista no segundo turno. Martha Rocha, em todas as pesquisas, briga voto a voto em um possível segundo turno com Eduardo Paes, inclusive aparecendo a frente em várias delas.

Se a esquerda não praticar o voto útil e focar seus esforços na candidatura de Martha Rocha, corre o risco de repetir as eleições presidenciais de 2018 e entregar a cidade do Rio ao abismo de um segundo turno com vitória fácil para Paes.

Bolsonaro disputa o Rio de Janeiro em 2 dos 3 potenciais candidatos a um segundo turno carioca. O voto progressista dividido daria a Bolsonaro o melhor dos mundos: um segundo turno entre Eduardo Paes e Crivella, mantendo a cidade carioca sob seu campo de influência.

Só Martha Rocha pode derrubar Eduardo Paes, e eventual influencia bolsonarista na cidade e não há motivo para assumirmos um compromisso com a derrota. O voto útil da esquerda nunca foi tão necessário. Chegou a hora do eleitor progressista mostrar se realmente está disposto em assumir o protagonismo no comando das principais cidades brasileiras e no país. A divisão de voto em candidaturas sem chances tanto de alcançar o segundo turno quanto em ter uma derrota eminente, pode condenar a cidade do Rio de Janeiro a mais 04 anos do clã Bolsonaro ditando as regras na cidade maravilhosa, seja com Crivella, seja com Eduardo Paes.

Por Fernando Mendonça, advogado, especialista em direito público, candidato a vereador no Rio de Janeiro